28.11.11

Good Will Hunting, 1997

" (...) Estive a pensar no que disseste no outro dia sobre o meu quadro.
Passei metade da noite acordado a pensar. E ocorreu-me uma coisa... Depois caí profundamente a dormir e não voltei mais a pensar em ti.
Sabes o que me ocorreu? Que não passas de um puto que não fazia ideia do que estava a dizer. O que é natural; nunca saíste de Boston.
Deves ser capaz de me resumir todos os livros de arte já escritos. Miguel Ângelo... Sabes imenso sobre ele. Obras, ideais políticos, relações com o Papa, orientação sexual, tudo? Mas aposto que não sabes a que cheira a Capela Sistina. Nunca lá estiveste a olhar para cima, para aquele tecto. Nunca o viste.
Se te perguntasse sobre mulheres, irias descrever-me uma sebenta inteira de tópicos. Até podes ter ido para a cama com algumas. Mas saberás o que é acordar feliz ao lado de uma?
És um puto duro... Se te falasse de guerra, eras capaz de me vir com Shakespeare? "Uma vez mais a contenda, queridos amigos..." Mas nunca estiveste numa. Nunca tiveste no colo a cabeça do teu melhor amigo e o viste respirar uma última vez, pedindo-te ajuda com o olhar.
Falo-te do amor e certamente me recitarás um soneto. Mas nunca olhaste para uma mulher e te sentiste totalmente vulnerável, nunca conheceste nenhuma que te confortasse só com o olhar e te fizesse sentir que Deus tinha criado um anjo só para ti para te arrancar das profundezas do Inferno. E não sabes o que é ser o anjo dela, sentir um tal amor por ela, estar-lhe de tal maneira ligado, que a apoiarias até se tivesse um cancro...
Não sabes o que é dormir sentado dois meses num quarto de hospital a dar-lhe a mão por os médicos verem que a expressão "horas de visita" não se pode aplicar a ti. Não sabes o que é sofrer uma perda dessas, porque só sabe quem ama alguém mais do que a si próprio. Duvido que tenhas ousado amar assim tanto alguém.
Olho para ti e não vejo um homem inteligente e confiante. Vejo um puto atrevido e a borrar-se de medo.
Mas és um génio Will, isso ninguém pode negar. Ninguém jamais perceberá a complexidade que há dentro de ti. Mas lá por teres visto um quadro meu julgas conhecer-me e poder dissecar a minha vida inteira? És orfão, não é? Achas que posso começar a imaginar quão dura foi a tua vida, o que sentes, quem és, por ter lido "Oliver Twist"? O livro define-te, achas?
Pessoalmente, estou-me nas tintas, por não aprender contigo nada que não leia num livro qualquer. A não ser que queiras falar sobre ti, sobre quem és... Nesse caso fascinas-me, nesse caso sou todo teu. Mas tu não queres isso, pois não? Por medo do que poderás dizer.
A decisão é tua, chefe. (...) "

1 comentário:

  1. Este é - simplesmente - um dos meus filmes preferidos. Digo-o pessoalmente. É um dos mais mainstream do Gus Van Sant, odiado por parte da cinefilia que o acusa de lamechas, mas considero este argumento uma pérola, tanto dramaticamente do ponto de vista da psicologia, da filosofia, etc. Grandes interpretações, também. Enfim. Muito bom filme.

    Obrigado por teres passado pelo CINEROAD, passa por lá sempre que quiseres, comentando todos os filmes que gostares. Faço intenções de passar sempre por aqui e comentar também :)

    Até breve,
    Roberto Simões
    CINEROAD.net

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